sábado, 18 de agosto de 2012

Terra e Barro


PEDAÇOS DE UM TEMPO - Didio Dufrayer - Terra e Barro



Terra e Barro

_Certa vez uma amiga ao abrir a bolsa na minha frente; reparei que dentro havia um tijolo, que estranho... Qual seria a razão dela andar com um tijolo pra cima e pra baixo - dentro da bolsa?

Ora, perguntei eufórico indagando tal absurdo: _Qual seria a razão desta estupidez, por ventura, um ladrão correria de sobressalto ao saber que anda armada pelas ruas da vida. 

Disse-me ela com risos e choradeira genuflexão: _Tem haver com vida, sonhos e realizações. Nem sempre ando com este pedaço de barro no coração, só quando bate a nostalgia. Este, porém foi um último tijolo da casa de meus pais, um que sobrara da construção que tanto custou em lágrimas, trabalho e desesperança. 

A maior decepção deles fora a perda de sua conquista, tanta demora pra se erguer um algo e tanta pressa para se desfazer um ideal. Coube-me daquilo tudo guardar apenas um marco, um torrão de tristeza que fosse!

Quando eles se foram, quando tudo ruiu... Veio a saudade que dilacera a alma implorando por um abraço meigo de pai, um beijo de mãe na testa e se aquilo que escrevo ou leio e falo me faz chorar, então porque não me permitir às lágrimas.

Este grão de terra em barro é tudo que me lembra o quanto somos felizes, estávamos a salvo debaixo daquele teto, eu tinha Mãe, Pai e história pra contar...

Todo o tempo, eu tinha tanto a receber, porque eu tinha tudo neles. E eles se foram, a casa se foi e o mundo acabou naquele instante, tudo ruiu.

Um sonho, basta fechar os olhos, viver é só respirar, mas criar, criar é necessário carregar tijolos. Eu não preciso de um simples tijolo para sonhar, mas sim de um primeiro tijolo para construir um sonho.